Monday, April 30, 2007




Henri Matisse, Odalisca



XII

Se te pareço nocturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst

Sunday, April 29, 2007


Salvador Dali, A persistência da memória

Vestígios

noutros tempos

quando acreditávamos na existência da lua

foi-nos possível escrever poemas e

envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído

pelas salivas proibidas - noutros tempos

os dias corriam com a água e limpavam

os líquenes das imundas máscaras



hoje

nenhuma palavra pode ser escrita

nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras

ou se expande pelo corpo estendido

no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se



onde se pode - num vocabulário reduzido e

obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua

e nada mais se consiga ouvir



apesar de tudo

continuamos e repetir os gestos e a beber

a serenidade da seiva - vamos pela febre

dos cedros acima - até que tocamos o místico

arbusto estelar

e

o mistério da luz fustiga-nos os olhos

numa euforia torrencial



Al-Berto


Saturday, April 28, 2007


Pablo Picasso, Mulher com braços cruzados


Poema em linha recta



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Álvaro de Campos



Friday, April 27, 2007



Egon Schiele, Amantes



Assim o amor


Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
Em vão busquei eterna luz precisa


Sophia de Mello Breyner Andresen

Thursday, April 26, 2007



Egon Schiele, Amizade



Quando estamos assim


Quando estamos assim
deitados e nus, sem
a minha cara saber
se é a tua cara à frente
dela, parece-me bem
que o mundo é uma coisa
às escuras, sem importância
nenhuma. Dou a volta,
rodopio como um artista
de circo, estou dentro
de uma rotina, quando
lavo os dentes e visto
o pijama de flanela às riscas
sinto-me um miúdo pequeno
que desconhece o que é
morrer. Chamaste-me
sentimental, sentimental
é a tua tia.



Helder Moura Pereira

Wednesday, April 25, 2007



Egon Schiele, Amantes



Da grande página aberta do teu corpo

Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
uma nódoa no teu peito de água clara

Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto
meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol

Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cais vencida flor


António Ramos Rosa

Tuesday, April 24, 2007



Balthus, A paciência



O amor é o amor


O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!



Alexandre O´Neill

Monday, April 23, 2007



Marc Chagall, Paisagem azul



As palavras que te envio são interditas

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade



Sunday, April 22, 2007



Amedeo Modigliani, Nu Reclinado




Uma palavra morre
Quando é dita —
Dir-se-ia —
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia.

Emily Dickinson

Saturday, April 21, 2007



Francis Bacon, Figura Sentada



O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

Konstantinos Kaváfis

Friday, April 20, 2007



Egon Schiele, Os Amantes

Meu amor meu amor

meu corpo em movimento

minha voz à procura

do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura meu punhal a escrever

nós parámos o tempo não sabemos morrer

e nascemos nascemos

do nosso entristecer.

Meu amor meu amor

meu nó e sofrimento

minha mó de ternura

minha nau de tormento

este mar não tem cura este céu não tem ar

nós parámos o vento não sabemos nadar

e morremos morremos

devagar devagar.

Ary dos Santos

Thursday, April 19, 2007


Ariadne Adormecida, Anónimo Romano

CONSOLAÇÃO

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco
importa aonde vai no tempo dividido. Já não é
meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se
recorda. Quem de facto o amou?

Procura o seu igual no voto dos olhares. O espaço
que percorre é a minha fidelidade. Ele desenha a
esperança e ligeiro despede-a. Ele é
preponderante sem tomar parte em nada.

Vivo no seu abismo como um feliz destroço. Sem
que ele saiba, a minha solidão é o seu tesouro.
No grande meridiano onde inscreve o seu curso é
a minha liberdade que o escava.

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco
importa onde vai no tempo dividido. Já não é
meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se
recorda. Quem de facto o amou e de longe o
ilumina para que não caia?

René Char




Aubery Beardsley, Salomé
ETERNO

Entre uma flor colhida e outra ofertada
o inexprimível nada

Giuseppe Ungaretti


Wednesday, April 18, 2007


Ticiano, Ecce Homo
Grito

Não posso já com ervas nem com árvores;
Prefiro os lisos, frios mármores
Onde nada está escrito.

Meu gosto da paisagem fez-se escuro;
Nenhures é o lugar que mais procuro
Como homem proscrito.

Eu bem sei: A verdura! A flor! Os frutos!
Mas não posso passar de olhos enxutos,
Meu campo verde aflito.

Porventura cegaram os meus olhos
Porque há nos silveirais flores aos molhos
- Tanta flor me tem dito.

Mas eu bem sei que movediços lodos
Que são o chão, as lágrimas de todos,
Meu coração contrito.

Eu não sei se amanhã será meu dia;
Recolho-me furtivo na poesia,
Incerto o chão que habito.

Ai de mim! Ai de mim, nuvem medonha!
Os homens conheci, bebi peçonha,
E é por isso que grito.



Afonso Duarte


Monday, April 16, 2007




René Magritte, Os Amantes


Se eu pudesse dizer-te: - Senta aqui
nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,
ó amável bichinho, o pêlo fino;
depois, a contra-pêlo, provocar-te!
Se eu pudesse juntar no mesmo fio
(infinito colar!) cada arrepio
que aos viageiros comprazidos dedos
fizesse descobrir novos enredos!
Se eu pudesse fechar-te nesta mão,
tecedeira fiel de tantas linhas,
de tanto enredo imaginário, vão,
e incitar alguém: - Vê se adivinhas...
Então um fértil jogo de amor seria.
Não este descerrar a mão vazia !
(...)

Alexandre O'Neill


Saturday, April 14, 2007



Michelangelo Buonarotti, David (detalhe)


Seus olhos sempre puros

Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas ao horizonte
[ dos mares,
De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,
A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça
E contemplar seu próprio corpo obediente e vão.

Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,
Deuses de prata que tinham safiras nas mãos,
Deuses verdadeiros, pássaros na terra
E na água, vi-os.

Suas asas são as minhas, nada mais existe
Senão o seu vôo a sacudir minha miséria.
Seu vôo de estrela e luz,
Seu vôo de terra, seu vôo de pedra
Sobre as vagas de suas asas.

Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.

Paul Éluard




Wednesday, April 11, 2007


Fernand Khnopff, Ligeia

Ama-me por amor do amor somente
Não digas: «Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua.» Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

Elizabeth Barrett Browning



Gustav Klimt, Vida e Morte


MORTE
Nem temor nem esperança assistem

Ao animal agonizante;

O homem que seu fim aguarda

Tudo teme e espera;

Muitas vezes morreu,

Muitas vezes de novo se ergueu.

Um grande homem em sua altivez

Ao enfrentar assassinos

Com desdém julga

A falta de alento;

Ele conhece a morte até ao fundo —

O homem criou a morte.

William Butler Yeats


Tuesday, April 10, 2007


The Lady of Shalott- Watterhouse
De ambos os lados do rio se encontram
Longos campos de cevada e de centeio,
Que cobrem a planície e encontram o céu;
E pelo campo a estrada corre
Para a Camelot de muitas torres;
E as pessoas vão para cima e para baixo,
Contemplando onde os lírios flutuam,
Há uma ilha mais abaixo,
A ilha de Shalott.
Salgueiros empalidecem, álamos tremem,
Ligeiras brisas, escurecem e tremem
Pela onda que corre eternamente
Pela ilha no rio fluindo até Camelot.
Quatro paredes cinzentas, e quatro torres cinzentas,
Pendem sobre um campo florido,
E a ilha silenciosa cobre de sombras
A Lady de Shalott.
Na margem , velada pelos salgueiros
deslizam as barcas, atravessada
por lentos cavalos, o barco navega, com velas de seda
descendo até Camelot:
mas quem a viu acenar ?
ou de pé em frente às muralhas?
Ou é conhecida em toda a terra,
a Dama de Shalott?
Somente ceifeiros, ceifando cedo,
Por entre a cevada viçosa
Ouvem uma canção que ecoa alegremente
Por entre o rio rio que serpenteia
Até a elevada Camelot;
E ao luar, o ceifeiro cansado,
Empilhando fardos em planaltos arejados,
Escutando, sussurra "esta é fada
" A Lady de Shalott".
Lá ela tece dia e noite
Uma teia mágica com cores alegres.
Ela ouviu um murmúrio dizendo,
Que a maldição cairá sobre ela se continuar a
Olhar para Camelot.
Ela não sabe o que a maldição pode ser,
E assim ela tece continuamente,
E nenhuma outra preocupação tem ela,
A Lady de Shalott.
E movendo-se através de um espelho claro
Que pende diante dela todo o ano,
Sombras do mundo aparecem.
Lá ela vê a estrada se próxima
Serpenteando até Camelot;
Ali a corrente do rio ondula,
Ali a aldeia se agita
e as capas vermelhas das vendedeiras
passam por Shalott.
Ás vezes um grupo de donzelas felizes,
um abade num passo trôpego,
Ás vezes um pastor de cabelos ondulados,
Ou um pagem de vestes escarlates,
passa a caminho de Camelot.
E às vezes através do azul espelho
Os cavaleiros vêm cavalgando dois a dois.
Ela não tem nenhum cavaleiro leal e verdadeiro,
A Lady de Shalott.
Mas em sua teia, ela ainda se delicia
A tecer as mágicas visões do espelho,
Frequentemente pelas noites silenciosas
Um funeral, com plumagens e luzes,
E música passou a caminho de Camelot;
Ou quando a Lua pendia do alto,
Vinham dois jovens amantes acabados de casar.
"Estou quase doente de sombras", disse
A Lady de Shalott.
Á distância de uma seta disparada do quarto dela,
Ele cavalgou por entre os fardos de cevada,
O sol veio ofuscante por entre as folhas,
E ardeu por sobre os bravos membros
Do valente Sir Lancelot.
Um cavaleiro com uma cruz-vermelha, eternamente ajoelhado
Perante uma senhora em seu escudo,
Que brilhava no campo amarelo,
Ao lado da remota Shalott.
O freio com joias brilhava livre
como algumas estrelas que vemos
na dourada galáxia.
Os guizos dos freios soaram alegremente
Enquanto ele cavalgava para Camelot.
E da sua sela emblazonada pendia
um poderoso trompete de prata.
E à medoda que cavalgava a sua armadura se reflectia
à beira da remota Shalott.
No céu azul, sem nuvens
brilhava o cabedal incrustado com jóias sa sela,
O elmo e as penas do elmo,
ardiam juntos, como uma chama,
Enquanto ele cavalgava para Camelot,
como frequentemente, por entre a púrpura noite
por baixo das brilhantes constelações,
a cauda de um meteoro , ardendo,
passa por entre a calma Shalott.
Sua clara fronte brilhou à luz do sol;
Em cascos polidos, seu cavalo de guerra cavalgou;
Debaixo de seu capacete fluiarm
Seus cachos negros como carvão enquanto cavalgava,
A caminho de Camelot.
Da margem e do rio
Ele apareceu no espelho cristalino,
"Tirra lirra", pelo rio
Cantou Sir Lancelot.
Ela deixou a teia, ela deixou o tear,
Ela deu três passos pelo quarto,
Ela viu o lírio aquático florescer,
Ela viu o elmo e a plumagem,
Ela olhou para Camelot.
Para fora voou a teia, flutuando para longe;
O espelho rachou de lado a lado;
"A maldição caiu sobre mim", gritou
A Lady de Shalott.
No tempestuoso vento leste forçando,
Os pálidos bosques amarelos estavam orcilando,
O amplo riacho em suas margens lamentando-se.
O baixo céu chovendo fortemente
Por sobre a dominante Camelot;
Ela desceu e encontrou um barco
Sob um salgueiro partido flutuando,
E em volta da proa, ela escreveu
A Lady de Shalott.
E descendo o extenso e turvo rio
Como algum vidente ousado em transe,
Vendo toda sua própria miséria -
Com um semblante transparente,
Ela olhou para Camelot.
E ao fim do dia
Ela soltou as correntes e deitou-se;
O amplo riacho levou-a para longe,
A Lady de Shalott.
Deitada, vestida de puro branco,
que ondulava leve para a esquerda e a direita,
e por entre os ruidos da noite,
ela flutuou até Camelot.
E à medida que o barco deslizava por entre
as colinas com salgueiros e os campos,
ouviram-na cantar o seu último canto,
A Dama de Shalott.
Ouviu-se um hino, pesaroso, sagrado,
Gritado, sussurrado ,
Até que o sangue dela foi lentamente gelou,
E seus olhos ficaram completamente apagados,
Voltada para a elevada Camelot.
Antes que com a maré ela alcançasse
A primeira casa da costa,
Cantando sua canção, ela morreu,
A Lady de Shalott.
Sob a torre e a sacada,
Do muro do jardim e da galeria,
Um vulto cintilante, ela flutuou,
Uma palidez mortal por entre elevadas casas,
Silente em direcção a Camelot.
Vieram até ao cais,
Cavaleiro e burguês, lorde e dama,
E em volta da proa, eles leram o nome dela,
A Lady de Shalott.
Quem é esta? O que faz aqui?
Com o palácio iluminado nas proximidades
Morreu o som da real celebração;
E eles se benzeram por medo,
Todos os Cavaleiros de Camelot;
Mas Lancelot refletiu por um tempo,
Ele disse, "ela tem um belo rosto;
Deus na tua clemência dá-lhe a salvação,
À Lady de Shalott".
Alfred, Lord Tennyson