Tuesday, June 26, 2007



Tamara de Lempicka, A bela Rafaela

A meu favor

Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça

Alexandre O'Neill


Psychedelic Furs, Ghost in you

Thursday, June 21, 2007





Lucien Freud, Cabeça feminina







Vestígios



noutros tempos

quando acreditávamos na existência da lua

foi-nos possível escrever poemas e

envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído

pelas salivas proibidas - noutros tempos

os dias corriam com a água e limpavam

os líquenes das imundas máscaras



hoje

nenhuma palavra pode ser escrita

nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras

ou se expande pelo corpo estendido

no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se



onde se pode - num vocabulário reduzido e

obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua

e nada mais se consiga ouvir



apesar de tudo

continuamos e repetir os gestos e a beber

a serenidade da seiva - vamos pela febre

dos cedros acima - até que tocamos o místico

arbusto estelar

e

o mistério da luz fustiga-nos os olhos

numa euforia torrencial



Al-Berto



Massive Attack, Butterfly Caught

Wednesday, June 20, 2007



René Magritte, Filosofia de alcova


Yes Yes

when God created love he didn't help most
when God created dogs He didn't help dogs
when God created plants that was average
when God created hate we had a standard utility
when God created me He created me
when God created the monkey He was asleep
when He created the giraffe He was drunk
when He created narcotics He was high
and when He created suicide He was low

when He created you lying in bed
He knew what He was doing
He was drunk and He was high
and He created the mountians and the sea and fire at the same time

He made some mistakes
but when He created you lying in bed
He came all over His Blessed Universe.

Charles Bukowski


Pixies, Here comes your man

Tuesday, June 19, 2007

A little Light music

David Bowie- Ziggy Stardust
Space Odity
Ashes to Ashes
Modern Love
Iggy Pop- I wanna be your dog
Lust for life
Candy
Beside you
Dead Kennedys - Holiday in Cambodja
Moral majority
California Uber alles
Forest fire
Bad Religion- Punk Rock song
Infected
Sorrow
Incomplete
Sonic youth- Silver Rocket
Incinerate
Superstar
Death Valley 69
P.J Harvey- This is love
Henry Lee
Send his love to me
A perfect day Elise
Red Hot Chili Peppers- Give it away
Around the world
Under the bridge
The Zephyr song
Joy Division- Atmosphere
Love will tear us apart
Dead souls
Isolation
The cure-Boys don't cry
Just like heaven
Pictures of you
Close to me
The pixies- Where is my mind
Vamos
Hey
Here comes your man
Placebo- Every you and every me
Change your taste in men
Special k
My sweet prince
Oscar Kokoschka, A noiva do vento



nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu me tenha fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando subtilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa

ou se quiseres ver-me fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas

e.e. cummings





Modern English, Melt with you

Friday, June 15, 2007



Vincent Van Gogh, Esplanada à noite
Crepúsculo

É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
quando a noite se destaca
da cortina;
quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
quando a força de vontade
ressuscita;
quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
e quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz livida, a palavra
despedida.



David Mourão-Ferreira
James, Laid

Monday, June 11, 2007


Egon Schiele, Mulher sentada com joelho dobrado

Há noites


Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

.......

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que são só iguais
À mais longínqua onda do teu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo...


Natália Correia



Dinossaur Jr, Get me

Tuesday, June 5, 2007


Paul Cézanne, Natureza Morta

Não toques nos objectos imediatos


Não toques nos objectos imediatos.
A harmonia queima.
Por mais leve que seja um bule ou uma chavená,
são loucos todos os objectos.
Uma jarra com um crisântemo transparente
tem um tremor oculto.
É terrível no escuro.
Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer.
A boca fica em chaga.



Herberto Helder


Radiohead, No surprises