Sunday, November 15, 2009

Saturday, November 14, 2009

Friday, November 13, 2009

Thursday, November 12, 2009

Dizem que a paixão o conheceu

dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos

Al berto

Thursday, October 29, 2009

Monday, October 26, 2009

Respiro o teu corpo

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade


Sunday, October 18, 2009

Wednesday, October 7, 2009




Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia

Monday, October 5, 2009


Cada dia é mais evidente que partimos

Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento:
Não há saudades nem terror que baste.



Sophia de Mello Breyner Andresen

Sunday, October 4, 2009



Nem sempre o corpo se parece

Nem sempre o corpo se parece com
um bosque, nem sempre o sol
atravessa o vidro,
ou um melro cante na neve.
Há um modo de olhar vindo
do deserto,
mirrado sopro de folhas,
de lábios, digo.



Eugénio de Andrade

Wednesday, September 30, 2009

VI

A que vens,solidão,com teu relógio
de ponteiros de visgo,de bater de feltro?
Ombro nenhum ao meu ombro encostado,
a que vens,ó camarada solidão?

Companheira,amiga,até amante,
até ausente,ó solidão,te amei,
como se ama o frio até o frio dar
a chama que tu dás,ó solidão!

A que vens,enfermeira? Não sabes que estou morto,
que se digo o meu sim ou o meu não
é só para que os outros me julguem mais um outro,
é só para que um morto não tire o sono aos outros?

A que vens ,solidão?Vai antes possuir
os que amam sem esperança e sem saber esperam,
dá-lhes o teu conforto,encosta-lhes ao ombro
o teu ombro nenhum,ó solidão!


Alexandre 0'Neill

Monday, September 28, 2009



Empurro a porta

Empurro a porta, experimento a chave, encosto o tapete
à parede, entro pelas traseiras. Na casa há um momento
em que não há tempo, eu fico de pé sem me mexer e a luz
diminui, de gabardina, de pé, na casa quase vazia, de mala
na mão, sou um homem filmado de todos os ângulos.

O gato, o cão, o inominável insecto, todos saúdam a minha cara
baixa, com dois olhos distraídos e um nariz afunilado.
Só a expressão dessa cara não engana que o rol das frustrações
já nem aumenta, é. E como é de tarde, ponho-me a pensar
que de tarde é que é bom e há já uns bons anos que nunca mais.

Uma culpa sente-se nas paredes molhadas enquanto demoro
ainda mais tempo atirar a gabardina, poisar a mala. Contudo,
como se tivesse olhos na nuca, vejo a toda a volta o silêncio.
Eis o meu pequeno mundo vazio, mundo tão mentiroso como eu,
aqui não há dúvida de que cada palavra rola, metálica,
até encontrar a linha resistente, cadeira onde se instale.

Algum tempo demorarão os ossos a cair, se a morte tivesse
surpresa e o meu corpo deslizasse em olhos de sangue
e impaciência pela parede ainda nova e fresca de tintas brancas.
Ao dar finalmente um pequeno passo, sinto-me segmento
de fragmento, distância semeada por justos contemporâneos.



HELDER MOURA PEREIRA

Thursday, September 24, 2009



Eu contarei

Eu contarei a beleza das estátuas -
Seus gestos imóveis ordenados e frios -
E falarei do rosto dos navios

Sem que ninguém desvende outros segredos
Que nos meus braços correm como rios
E enchem de sangue a ponta dos meus dedos.



Sophia de Mello Breyner Andresen


Wednesday, September 23, 2009




Pudesse Eu

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!



Sophia de Mello Breyner Andreson


Monday, September 21, 2009



Como uma flor vermelha

À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.



Sophia de Mello Breyner Andresen


Saturday, September 19, 2009

Thursday, September 17, 2009



i have found what you are like
by: e.e. cummings

i have found what you are like
the rain

(Who feathers frightened fields
with the superior dust-of-sleep. wields

easily the pale club of the wind
and swirled justly souls of flower strike

the air in utterable coolness

deeds of gren thrilling light
with thinned
newfragile yellows

lurch and.press
--in the woods
which
stutter
and
sing
And the coolness of your smile is
stirringofbirds between my arms;but
i should rather than anything
have(almost when hugeness will shut
quietly)almost,
your kiss

Friday, September 11, 2009

Epitaph



Epitaph

An old willow with hollow branches
slowly swayed his few high gright tendrils
and sang:

Love is a young green willow
shimmering at the bare wood's edge.

William Carlos Williams

Wednesday, August 26, 2009

Tuesday, August 25, 2009

Monday, August 24, 2009

Sunday, August 23, 2009

Saturday, August 22, 2009

Friday, August 21, 2009

Thursday, August 20, 2009

Wednesday, August 19, 2009

Tuesday, August 18, 2009

Monday, August 17, 2009

Sunday, August 16, 2009

Saturday, August 15, 2009

Friday, August 14, 2009

Thursday, August 13, 2009

Wednesday, August 12, 2009

Tuesday, August 11, 2009

Monday, August 10, 2009

Sunday, August 9, 2009

Saturday, August 8, 2009

Friday, August 7, 2009

Thursday, August 6, 2009

Wednesday, August 5, 2009

Tuesday, August 4, 2009

Monday, August 3, 2009

Wednesday, July 29, 2009

Tuesday, July 28, 2009

Monday, July 27, 2009

Sunday, July 26, 2009

Saturday, July 25, 2009

Friday, July 24, 2009

Thursday, July 23, 2009




Sempre distante amor e perto anseio

Sempre distante amor e perto anseio,
e triste descambar do adeus e a ida
em promessa que apenas prometida
tanto levou do ser que o fez alheio.

De outra morte morrer, opõe receio?
Morre um morto após si, já em seguida
à perda ao largo de alma tão perdida?
Mortos são os que morrem vida em meio.

São os vivos de amor, que amor esquece,
e, súbito, na morte amadurece
antes de tudo mais que vai morrendo.

Feridos numa dor que está vivendo
no arrastar em gemido e em passo tardo,
ter sido, mais que ser, terrível fardo.



Maria Ângela Alvim

Wednesday, July 22, 2009

Quem escreve

Quem escreve quer morrer, quer renascer

num ébrio barco de calma confiança.

Quem escreve quer dormir em ombros matinais

e na boca das coisas ser lágrima animal

ou o sorriso da árvore. Quem escreve

quer ser terra sobre terra, solidão

adorada, resplandecente, odor de morte

e o rumor do sol, a sede da serpente,

o sopro sobre o muro, as pedras sem caminho,

o negro meio-dia sobre os olhos.



António Ramos Rosa

Tuesday, July 21, 2009




Pretextos para fugir do real

A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços

*

Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos



Alexandre O´Neill

Thursday, July 16, 2009

Monday, July 13, 2009

Sunday, July 12, 2009

Saturday, July 11, 2009

Friday, July 10, 2009

Thursday, July 9, 2009



Happiness is silent, or speaks equivocally for friends,
Grief is explicit and her song never ends,
Happiness is like England, and will not state a case,
Grief, like Guilt, rushes in and talks apace.

Stevie Smith

Thursday, July 2, 2009

hello, how are you?

this fear of being what they are:
dead.

at least they are not out on the street, they
are careful to stay indoors, those
pasty mad who sit alone before their tv sets,
their lives full of canned, mutilated laughter.

their ideal neighborhood
of parked cars
of little green lawns
of little homes
the little doors that open and close
as their relatives visit
throughout the holidays
the doors closing
behind the dying who die so slowly
behind the dead who are still alive
in your quiet average neighborhood
of winding streets
of agony
of confusion
of horror
of fear
of ignorance.

a dog standing behind a fence.

a man silent at the window.

Charles Bukowski

Saturday, June 27, 2009



Advice to a girl

No one worth possessing
Can be quite possessed;
Lay that on your heart,
My young angry dear;
This truth, this hard and precious stone,
Lay it on your hot cheek,
Let it hide your tear.
Hold it like a crystal
When you are alone
And gaze in the depths of the icy stone.
Long, look long and you will be blessed:
No one worth possessing
Can be quite possessed.

Sara Teasdale

Monday, June 22, 2009

My clumsiest dear, whose hands shipwreck vases,
At whose quick touch all glasses chip and ring,
Whose palms are bulls in china, burs in linen,
And have no cunning with any soft thing

Except all ill-at-ease fidgeting people:
The refugee uncertain at the door
You make at home; deftly you steady
The drunk clambering on his undulant floor.

Unpredictable dear, the taxi drivers' terror,
Shrinking from far headlights pale as a dime
Yet leaping before apopleptic streetcars—
Misfit in any space. And never on time.

A wrench in clocks and the solar system. Only
With words and people and love you move at ease;
In traffic of wit expertly maneuver
And keep us, all devotion, at your knees.

Forgetting your coffee spreading on our flannel,
Your lipstick grinning on our coat,
So gaily in love's unbreakable heaven
Our souls on glory of spilt bourbon float.

Be with me, darling, early and late. Smash glasses—
I will study wry music for your sake.
For should your hands drop white and empty
All the toys of the world would break.


John Frederick Nims

Saturday, June 20, 2009

Thursday, June 18, 2009

Wednesday, June 17, 2009

Tuesday, June 16, 2009

Sunday, June 14, 2009

Saturday, June 13, 2009

Friday, June 5, 2009

Wednesday, June 3, 2009



my mind is
a big hunk of irrevocable nothing which touch and
taste and smell and hearing and sight keep hitting and
chipping with sharp fatal tools
in an agony of sensual chisels i perform squirms of
chrome and execute strides of cobalt
nevertheless i
feel that i cleverly am being altered that i slightly am
becoming something a little different, in fact
myself
Hereupon helpless i utter lilac shrieks and scarlet
bellowings.

e.e. cummings

Monday, June 1, 2009




Ressurgiremos
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta
*
Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta
*
Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta
*
Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta
*
Sophia de Mello Breyner Andresen

Saturday, May 30, 2009


"Falling Away With You"

I can't remember when it was good
moments of happiness elude
maybe I just misunderstood

all of the love we left behind
watching the flash backs intertwine
memories I will never find

so I'll love whatever you become
and forget the reckless things we've done
I think our lives have just begun
I think our lives have just begun

and I'll feel my world crumbling
I'll feel my life crumbling
I'll feel my soul crumbling away
and falling away
falling away with you

staying awake to chase a dream
tasting the air you're breathing in
I know I won't forget a thing

promise to hold you close and pray
watching the fantasies decay
nothing will ever stay the same

all of the love we threw away
all of the hopes we cherished fade
making the same mistakes again
making the same mistakes again

I can feel my world crumbling
I can feel my life crumbling
I can feel my soul crumbling away
and falling away
falling away with you

all of the love we've left behind
watching the flash backs intertwine
memories I will never find
memories I will never find

Tuesday, May 26, 2009

Saturday, May 23, 2009



Dream Deferred


What happens to a dream deferred?
Does it dry up
Like a raisin in the sun?
Or fester like a sore--
And then run?
Does it stink like rotten meat?
Or crust and sugar over--
like a syrupy sweet?
Maybe it just sags
like a heavy load.
Or does it explode?

Langston Hughes

Tuesday, May 19, 2009

Monday, May 18, 2009



Well here we are in a special place
what are you gonna do here?
Now we stand in a special place
what will you do here?
What show of soul are we gonna get from you?
It could be deliverance, or history
under these skies so blue
could be something true,
But if I know you you'll bang the drum
like monkeys do

Here we are in a fabulous place
What are you gonna dream here?
We are standing in this fabulous place
What are you gonna play here?
I know you love the high life, you love to leap around
You love to beat your chest and make your sound
but not here man - this is sacred ground
with a Power flowing through
And if I know you you'll bang the drum
like monkeys do

Here we stand on a rocky shore
Your father stood here before you
I can see his ghost explore you
I can feel the sea implore you
Not to pass on by
Not to walk on by
and not to try
Just to let it come
Don't bang the drum
Just let it come
Don't bang the drum
Just let it come
Don't bang the drum
Do you know how to let it come now?
don't bang the drum now
Just let it come now come now come now come now ..
don't bang the drum now drum now drum now drum now...
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum
Don't bang the drum

Monday, May 11, 2009

Sunday, May 10, 2009

Thursday, May 7, 2009

Wednesday, May 6, 2009

Monday, May 4, 2009

Thursday, April 30, 2009

INTO THE TWILIGHT

OUT-WORN heart, in a time out-worn,
Come clear of the nets of wrong and right;
Laugh, heart, again in the grey twilight,
Sigh, heart, again in the dew of the morn.

Your mother Eire is always young,
Dew ever shining and twilight grey;
Though hope fall from you and love decay,
Burning in fires of a slanderous tongue.

Come, heart, where hill is heaped upon hill:
For there the mystical brotherhood
Of sun and moon and hollow and wood
And river and stream work out their will;

And God stands winding His lonely horn,
And time and the world are ever in flight;
And love is less kind than the grey twilight,
And hope is less dear than the dew of the morn.

William Butler Yeats

Saturday, April 25, 2009



Caminharemos de Olhos Deslumbrados

Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.

Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.


Ary dos Santos

Tuesday, April 21, 2009

O Livro dos Amantes

II

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

Natália Correia

Friday, April 17, 2009

Amor dos Fogos

.....vêm sôfregos os peixes da madrugada
beber o marítimo veneno das grandes travessias
trazem nas escamas a primavera sombria do mar
largam minúsculos cristais de areia junto à boca
e partem quando desperto no tecido húmido dos sonhos
.... vem deitar-te comigo no feno dos romances
para que a manhã não solte o ciúme
e de novo nos obrigue a fugir....
.... vem estender-te onde os dedos são aves sobre o peito
esquece os maus momentos a falta de notícias a preguiça
ergue-te e regressa
para olharmos a geada dos astros deslizar nas vidraças
e os pássaros debicam o outono no sumo das amoras....
.... iremos pelos campos
à procura do silente lume das cassiopeias...

Al Berto

Tuesday, April 14, 2009

Monday, April 13, 2009

Artwork Fernanda Cohen

Words

Be careful of words,
even the miraculous ones.
For the miraculous we do our best,
sometimes they swarm like insects
and leave not a sting but a kiss.
They can be as good as fingers.
They can be as trusty as the rock
you stick your bottom on.
But they can be both daisies and bruises.

Yet I am in love with words.
They are doves falling out of the ceiling.
They are six holy oranges sitting in my lap.
They are the trees, the legs of summer,
and the sun, its passionate face.

Yet often they fail me.
I have so much I want to say,
so many stories, images, proverbs, etc.
But the words aren't good enough,
the wrong ones kiss me.
Sometimes I fly like an eagle
but with the wings of a wren.

But I try to take care
and be gentle to them.
Words and eggs must be handled with care.
Once broken they are impossible
things to repair.

Anne Sexton

Saturday, April 11, 2009

Friday, April 10, 2009

Thursday, April 9, 2009

Friday, April 3, 2009

Saturday, March 28, 2009

Sunday, March 22, 2009

A little night music

Rainy day blues

The Blackbirds are Rough Today


lonely as a dry and used orchard
spread over the earth
for use and surrender.

shot down like an ex-pug selling
dailies on the corner.

taken by tears like
an aging chorus girl
who has gotten her last check.

a hanky is in order your lord your
worship.

the blackbirds are rough today
like
ingrown toenails
in an overnight
jail---
wine wine whine,
the blackbirds run around and
fly around
harping about
Spanish melodies and bones.

and everywhere is
nowhere---
the dream is as bad as
flapjacks and flat tires:

why do we go on
with our minds and
pockets full of
dust
like a bad boy just out of
school---
you tell
me,
you who were a hero in some
revolution
you who teach children
you who drink with calmness
you who own large homes
and walk in gardens
you who have killed a man and own a
beautiful wife
you tell me
why I am on fire like old dry
garbage.

we might surely have some interesting
correspondence.
it will keep the mailman busy.
and the butterflies and ants and bridges and
cemeteries
the rocket-makers and dogs and garage mechanics
will still go on a
while
until we run out of stamps
and/or
ideas.

don't be ashamed of
anything; I guess God meant it all
like
locks on
doors.

Charles Bukowski

Saturday, March 21, 2009

Primavera




"Mudança possui tudo"? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma

De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida



Ruy Belo

Thursday, March 19, 2009

Tuesday, March 17, 2009

Sunday, March 15, 2009

Mad Girl's Love Song


"I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)

The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)

God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)

I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)"

Sylvia Plath


Thursday, March 12, 2009

Monday, March 9, 2009

18-10-1931

Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é – creio bem – uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte. Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coacções, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos musicais, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso. Na prosa se engloba toda a arte – em parte porque na palavra se contém todo o mundo, em parte porque na palavra livre se contém toda a possibilidade de o dizer e pensar. Na prosa damos tudo, por transposição: a cor e a forma, que a pintura não pode dar senão directamente, em elas mesmas, sem dimensão íntima; o ritmo, que a música não pode dar senão directamente, nele mesmo, sem corpo formal, nem aquele segundo corpo que é a ideia; a estrutura, que o arquitecto tem que formar de coisas duras, dadas, externas, e nós erguemos em ritmos, em indecisões, em decursos e fluidezas; a realidade, que o escultor tem que deixar no mundo, sem aura nem transubstanciação; a poesia, enfim, em que o poeta, como o iniciado em uma ordem oculta, é servo, ainda que voluntário, de um grau e de um ritual. Creio bem que, em um mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa. Deixaríamos os poentes aos mesmos poentes, cuidando apenas, em arte, de os compreender verbalmente, assim os transmitindo em música inteligível de cor. Não faríamos escultura dos corpos, que guardariam próprios, vistos e tocados, o seu relevo móbil e o seu morno suave. Faríamos casas só para morar nelas, que é enfim, o para que elas são. A poesia ficaria para as crianças se aproximarem da prosa futura; que a poesia é, por certo, qualquer coisa de infantil, de mnemónico, de auxiliar e inicial. Até as artes menores, ou as que assim podemos chamar, se reflectem, múrmuras, na prosa. Há prosa que dança, que canta, que se declama a si mesma. Há ritmos verbais que são bailados, em que a ideia se desnuda sinuosamente, numa sensualidade translúcida e perfeita. E há também na prosa subtilezas convulsas em que um grande actor, o Verbo, transmuda ritmicamente em sua substância corpórea o mistério impalpável do Universo.

Bernardo Soares

Monday, March 2, 2009

Thursday, February 26, 2009




Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.

Rainer Maria Rilke


Monday, February 16, 2009

Friday, February 6, 2009





Linha de Rumo

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado...
Olho em meu redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.

Tanto tempo perdido...
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campo de flores
E silvas...

Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
Adrede.
Rui Cinatti


Wednesday, February 4, 2009



Tristania, Equilibrium

Monday, January 26, 2009


Foto Maggie Taylor


if strangers meet
life begins-
not poor not rich
(only aware)
kind neither
nor cruel
(only complete)
i not not you
not possible;
only truthful
-truthfully,once
if strangers(who
deep our most are
selves)touch:
forever

(and so to dark)

e.e.cummings





Helium Vola, Selig

Monday, January 19, 2009

Tuesday, January 13, 2009




Andar?! Não me custa nada!...

Mas estes passos que dou

Vão alongando uma estrada

Que nem sequer começou.

Andar na noite?!Que importa?...

Não tenho medo da noite

Nem medo de me cansar:

Mas na estrada em que vou,

Passo sempre à mesma porta...

E começo a acreditar

No mau feitiço da estrada:

Que se ela não começou

Também não foi acabada!

Só sei que,neste destino,

Vou atrás do que não sei...

E já me sinto cansada

Dos passos que nunca dei.

Natália Correia


Neil Young, Only love can break your heart

Thursday, January 8, 2009



Sirenia, Euphoria

Wednesday, January 7, 2009




ERRA UMA VEZ

nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez

Paulo Leminski


Dark Moor, The hanged man