Wednesday, September 30, 2009

VI

A que vens,solidão,com teu relógio
de ponteiros de visgo,de bater de feltro?
Ombro nenhum ao meu ombro encostado,
a que vens,ó camarada solidão?

Companheira,amiga,até amante,
até ausente,ó solidão,te amei,
como se ama o frio até o frio dar
a chama que tu dás,ó solidão!

A que vens,enfermeira? Não sabes que estou morto,
que se digo o meu sim ou o meu não
é só para que os outros me julguem mais um outro,
é só para que um morto não tire o sono aos outros?

A que vens ,solidão?Vai antes possuir
os que amam sem esperança e sem saber esperam,
dá-lhes o teu conforto,encosta-lhes ao ombro
o teu ombro nenhum,ó solidão!


Alexandre 0'Neill

Monday, September 28, 2009



Empurro a porta

Empurro a porta, experimento a chave, encosto o tapete
à parede, entro pelas traseiras. Na casa há um momento
em que não há tempo, eu fico de pé sem me mexer e a luz
diminui, de gabardina, de pé, na casa quase vazia, de mala
na mão, sou um homem filmado de todos os ângulos.

O gato, o cão, o inominável insecto, todos saúdam a minha cara
baixa, com dois olhos distraídos e um nariz afunilado.
Só a expressão dessa cara não engana que o rol das frustrações
já nem aumenta, é. E como é de tarde, ponho-me a pensar
que de tarde é que é bom e há já uns bons anos que nunca mais.

Uma culpa sente-se nas paredes molhadas enquanto demoro
ainda mais tempo atirar a gabardina, poisar a mala. Contudo,
como se tivesse olhos na nuca, vejo a toda a volta o silêncio.
Eis o meu pequeno mundo vazio, mundo tão mentiroso como eu,
aqui não há dúvida de que cada palavra rola, metálica,
até encontrar a linha resistente, cadeira onde se instale.

Algum tempo demorarão os ossos a cair, se a morte tivesse
surpresa e o meu corpo deslizasse em olhos de sangue
e impaciência pela parede ainda nova e fresca de tintas brancas.
Ao dar finalmente um pequeno passo, sinto-me segmento
de fragmento, distância semeada por justos contemporâneos.



HELDER MOURA PEREIRA

Thursday, September 24, 2009



Eu contarei

Eu contarei a beleza das estátuas -
Seus gestos imóveis ordenados e frios -
E falarei do rosto dos navios

Sem que ninguém desvende outros segredos
Que nos meus braços correm como rios
E enchem de sangue a ponta dos meus dedos.



Sophia de Mello Breyner Andresen


Wednesday, September 23, 2009




Pudesse Eu

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!



Sophia de Mello Breyner Andreson


Monday, September 21, 2009



Como uma flor vermelha

À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.



Sophia de Mello Breyner Andresen


Saturday, September 19, 2009

Thursday, September 17, 2009



i have found what you are like
by: e.e. cummings

i have found what you are like
the rain

(Who feathers frightened fields
with the superior dust-of-sleep. wields

easily the pale club of the wind
and swirled justly souls of flower strike

the air in utterable coolness

deeds of gren thrilling light
with thinned
newfragile yellows

lurch and.press
--in the woods
which
stutter
and
sing
And the coolness of your smile is
stirringofbirds between my arms;but
i should rather than anything
have(almost when hugeness will shut
quietly)almost,
your kiss

Friday, September 11, 2009

Epitaph



Epitaph

An old willow with hollow branches
slowly swayed his few high gright tendrils
and sang:

Love is a young green willow
shimmering at the bare wood's edge.

William Carlos Williams