Os sortudos
presos na autoestrada, à chuva, 6.15 da tarde,
estes são os sortudos,estes são os
devidamente empregados,a maioria com os seus rádios ligados tão alto
quanto possível, porque tentam não pensar ou recordar.
esta é a nossa civilização, os homens
outrora viveram nas árvores e cavernas , agora vivem
nos seus automóveis e em vias rápidas enquanto
as notícias locais são ouvidas uma vez e outra enquanto
mudamos as mudanças de primeira para segunda e de volta à primeira.
Há um pobre diabo apeado na faixa rápida mais à frente,a capota
levantada, de pé contra a vedação da autoestrada
um jornal contra a sua cabeça na chuva.
os outros carros forçam a sua passagem à volta do seu carro encostam
na outra faixa à frente de outros carros
determinados em cortar-lhes a passagem.
na faixa à minha direita um carro está a ser seguido
por um carro da polícia as suas luzes vermelhas e azuis a piscar, ele seguramente
não podia estar a exceder a velocidade permitida
à medida que
subitamente a chuva cai num imenso aguaceiro e todos os
carros param e
mesmo com as janelas fechadas posso sentir o cheiro de uns travões
a queimar
só espero que não sejam os meus enquanto
a parede de água diminui e voltamos à primeira
mudança; estamos todos ainda
muito longe de casa enquanto eu memorizo
a silhueta do carro à minha frente e o formato
da cabeça do condutor ou
o que
consigo ver dela acima do encosto da cabeça enquanto
o seu autocolante me pergunta
JÁ ABRAÇOU O SEU FILHO HOJE?
subitamente tenho vontade de gritar
à medida que outra parede de água cai e o
homem na rádio anuncia que haverá 7o por cento
de probabilidade de aguaceiros amanhã à noite
Charles Bukowski
The Cure, In between days
Tuesday, August 28, 2007
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