VI
A que vens,solidão,com teu relógio
de ponteiros de visgo,de bater de feltro?
Ombro nenhum ao meu ombro encostado,
a que vens,ó camarada solidão?
Companheira,amiga,até amante,
até ausente,ó solidão,te amei,
como se ama o frio até o frio dar
a chama que tu dás,ó solidão!
A que vens,enfermeira? Não sabes que estou morto,
que se digo o meu sim ou o meu não
é só para que os outros me julguem mais um outro,
é só para que um morto não tire o sono aos outros?
A que vens ,solidão?Vai antes possuir
os que amam sem esperança e sem saber esperam,
dá-lhes o teu conforto,encosta-lhes ao ombro
o teu ombro nenhum,ó solidão!
Alexandre 0'Neill
Wednesday, September 30, 2009
Monday, September 28, 2009
Empurro a porta
Empurro a porta, experimento a chave, encosto o tapete
à parede, entro pelas traseiras. Na casa há um momento
em que não há tempo, eu fico de pé sem me mexer e a luz
diminui, de gabardina, de pé, na casa quase vazia, de mala
na mão, sou um homem filmado de todos os ângulos.
O gato, o cão, o inominável insecto, todos saúdam a minha cara
baixa, com dois olhos distraídos e um nariz afunilado.
Só a expressão dessa cara não engana que o rol das frustrações
já nem aumenta, é. E como é de tarde, ponho-me a pensar
que de tarde é que é bom e há já uns bons anos que nunca mais.
Uma culpa sente-se nas paredes molhadas enquanto demoro
ainda mais tempo atirar a gabardina, poisar a mala. Contudo,
como se tivesse olhos na nuca, vejo a toda a volta o silêncio.
Eis o meu pequeno mundo vazio, mundo tão mentiroso como eu,
aqui não há dúvida de que cada palavra rola, metálica,
até encontrar a linha resistente, cadeira onde se instale.
Algum tempo demorarão os ossos a cair, se a morte tivesse
surpresa e o meu corpo deslizasse em olhos de sangue
e impaciência pela parede ainda nova e fresca de tintas brancas.
Ao dar finalmente um pequeno passo, sinto-me segmento
de fragmento, distância semeada por justos contemporâneos.
HELDER MOURA PEREIRA
Thursday, September 24, 2009
Wednesday, September 23, 2009
Monday, September 21, 2009
Como uma flor vermelha
À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.
Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.
Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
Sophia de Mello Breyner Andresen
À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.
Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.
Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Saturday, September 19, 2009
Thursday, September 17, 2009
i have found what you are like
by: e.e. cummings
i have found what you are like
the rain
(Who feathers frightened fields
with the superior dust-of-sleep. wields
easily the pale club of the wind
and swirled justly souls of flower strike
the air in utterable coolness
deeds of gren thrilling light
with thinned
newfragile yellows
lurch and.press
--in the woods
which
stutter
and
sing
And the coolness of your smile is
stirringofbirds between my arms;but
i should rather than anything
have(almost when hugeness will shut
quietly)almost,
your kiss
Friday, September 11, 2009
Epitaph
Epitaph
An old willow with hollow branches
slowly swayed his few high gright tendrils
and sang:
Love is a young green willow
shimmering at the bare wood's edge.
William Carlos Williams
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